Mulheres têm mais coragem de procurar ajuda para combater a violência doméstica e atendimento cresce 160%
toninho almada
"Rosa" saiu de casa para fugir da violência do marido
Com o pescoço, orelhas e as costas marcadas, Rosa (nome fictício), de 27 anos, foi nesta segunda-feira (12) pela primeira vez à Delegacia de Mulheres. A coragem para denunciar as constantes agressões do marido estava no seu colo: um bebê de 27 dias. Com as mãos trêmulas, ela conta que a violência começou logo que engravidou.
"Ele me batia tanto que por duas vezes cheguei a parar no hospital com risco de aborto. Achei que ia melhorar com o nascimento da nossa filha, mas as coisas só pioraram", diz. Na noite do último domingo (11), depois de agredi-la, o companheiro a prendeu no banheiro, deixando a filha, que só mama no peito, em prantos do lado de fora. Só abriu a porta de madrugada. Quando ele dormiu, Rosa pegou algumas roupas e saiu de casa com o bebê, direto para a delegacia que tem plantão 24 horas. "Não suporto mais. Quero viver em paz, quero a minha vida de volta", desabafa.
A jovem é exemplo do que vem se tornando cada vez mais frequente nos serviços que atendem às mulheres que sofrem violência doméstica. Elas estão perdendo o medo de denunciar. Prova disso é a estatística divulgada pelo Centro Risoleta Neves de Atendimento (Cerna). Nos oito primeiros meses deste ano, o número de atendimento cresceu 160%. De janeiro a agosto, o serviço registrou 359 novos atendimentos. Em 2010, foram 137.
Vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), o Cerna, criado em 2004, oferece atendimento psicossocial e jurídico para mulheres que sofrem qualquer tipo de violência doméstica. A vítima pode chegar direto na unidade, localizada na Avenida Pernambuco, 1.000, Savassi, que dali terá toda orientação e acompanhamento do caso. Tudo em pleno sigilo.
A subsecretária de Direitos Humanos, Carmen Rocha, credita o aumento no atendimento ao suporte que essas mulheres estão recebendo desde que passou a valer a Lei Maria da Penha, em 2006. Ela destaca que, além dos novos casos, o número de mulheres que retornaram e permaneceram em atendimento no serviço aumentou 10%. Foram 821 de janeiro a agosto deste ano e 747 no mesmo período do ano passado.
Há cinco meses, A.M.D.C, de 28 anos, vem sendo atendida no Cerna. Ela conta que depois de quase um ano sofrendo ameaças psicológicas, inclusive de morte, do ex- namorado, resolveu procurar o serviço indicado por policiais. Desde que terminou a relação, o ex- namorado não a deixou mais em paz. "Ligava sem parar, mandava mensagens e chegou a ir no meu trabalho onde tive que me esconder no banheiro com uma barra de ferro na mão. Ainda bem que chamaram a polícia", diz.
O abalo psicológico foi acentuado quando o rapaz ameaçou matar o filho dela. A.M.D.C teve síndrome do pânico, não podia fazer o mesmo caminho de volta para casa, perdeu o emprego e nem na rua conseguia sair. O ex-namorado foi preso, mas em liberdade provisória continua indiretamente a perseguindo. "O telefone começou a tocar de novo. Mas, agora, estou mais confiante. Ele sabe que se aproximar será preso. Tenho todo apoio do Cerna e sei dos meus direitos", afirma.
Se Fernanda Ferreira dos Santos, de 30 anos, que teve o corpo queimado pelo ex-marido, na madrugada de domingo, em Itaúna, tivesse procurado ajuda, como fez A.M.D.C, a tragédia poderia ter sido evitada. Fernanda teve 90% do corpo queimado e até o fechamento dessa edição continuava em estado gravíssimo. Após uma discussão, o homem jogou álcool e ateou fogo na mulher.
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