Após pane em aeronave, piloto desvia de escola e centro de saúde para pousar em terreno
Dos quatro ocupantes, incluindo o piloto, apenas um foi levado para o Hospital Felício Rocho, com ferimentos leves
AMADEU BARBOSA
Nos arredores do terreno onde o piloto pousou, estão uma escola e um centro de saúde
Centro de saúde, escola municipal, maternal, paróquia, entre vários pequenos comércios. Essa era a visão de Marcelo Boarini Bojikian, 39 anos, a cerca de 160 metros de altura (500 pés) quando o helicóptero que pilotava apresentou pane.
"Tive aproximadamente 1 segundo e meio para ativar o procedimento de emergência antes que o motor travasse", afirmou o heroi do dia pouco depois de pousar em um terreno onde uma quadra de tênis está sendo construída, no Bairro Havaí, Região Oeste de Belo Horizonte, nesta terça-feira (2).
Bojikian planejava levar os empresários Mario José Júnior de Camargos, 31 anos, Eduardo Guilherme Moreira Pacheco Lima, 30, e Felipe Isaac Souza, 26, a Passa Tempo, cidade do Centro-Oeste de Minas. Antes, faria um sobrevoo em Oliveira, na mesma região.
A aeronave apresentou problemas aproximadamente dois minutos após sair da empresa de serviços aéreos AVE, do Grupo Viganó e Viganó, na Raja Gabaglia, na Região Sul de BH. "O motor deu pane completamente. Fiz uma manobra chamada auto rotação (veja abaixo) e rapidamente visualizei o terreno para pousar", relembrou Bojikian.
Piloto há 19 anos, ele controlou a aeronave por cerca de 1,5 quilômetro, passou por cima de uma escola e de um posto de saúde antes de pousar com segurança. Tudo isso em 30 segundos. "O trem de pouso e o esqui ficaram destruídos. Apesar de aparentemente intacto, o helicóptero teve a estrutura danificada", avaliou.
O piloto acredita que a aeronave Bell Jet Ranger, de 1992, PT-HCZ, esteja avaliada em R$ 1 milhão. Após perícia de uma equipe da Infraero, o helicóptero foi levado ao pátio da empresa.
Susto
Dos três passageiros, apenas Mario José Camargos teve ferimentos. "Ele teve dores nas costas e o levamos ao Hospital Felício Rocho por precaução", disse o tenente-coronel Marcelo Tadeu, do Comando Operacional do Corpo de Bombeiros.
Helicóptero fez pouso forçado numa área entre os bairros Estrela Dalva e Havaí (Foto: Gabriel Pascoal)
Os 20 bombeiros precisaram jogar água e espuma para afastar o risco de explosão. "O combustível do helicóptero, querosene, é altamente inflamável", disse o comandante. A aeronave, segundo o piloto, estava com 80% de combustível, o que significa cerca de 300 litros de querosene.
O pouso forçado poderia ter se transformado em tragédia. O terreno estava cercado de construções: a Escola Municipal Prefeito Aminthas de Barros, o Centro de Saúde Estrela Dalva, e a Paróquia Santa Maria Estrela da Manhã, entre outros. A poucos metros, o Conjunto Estrela Dalva.
Eufóricos, os alunos da escola municipal não acreditavam no que tinham visto no segundo dia de aulas após as férias. "Eu estava jogando bola e vi o helicóptero. Teve muita gritaria e eu tive certeza que ele havia caído", relembra Davi de Oliveira, 12, estudante da 5ª série. No turno da manhã estudam cerca de 800 alunos.
O piloto Marcelo Bojikian identificou a pane no motor minutos depois de decolar (Foto: Gabriel Pascoal)
Ao lado do colégio, as funcionárias do centro de saúde comemoravam a habilidade do piloto. "Ele foi um heroi. Aqui estava cheio, com 60 pessoas. O helicóptero chegou a balançar os vidros", disse Paula Cotes, 26. Algumas enfermeiras revelaram ainda que estão cogitando fazer alguma homenagem a Bojikian.
No helicóptero havia quatro ocupantes, sendo que um ficou ferido levemente (Foto: Cristiano Couto)
O piloto Douglas Carvalho, 29, endossou os elogios ao colega. "Ele realmente teve muita habilidade. Contou com a sorte para achar um local amplo, mas não faltou destreza", disse.
Auto rotação
Bojikian explicou que a manobra consiste em manter a rotação do motor mesmo após a pane. "Tecnicamente, eu tirei o arrasto da pá para manter o motor principal. Nessas situações, o ideal é ter o vento a favor. Mas, mesmo com o vento contra, consegui controlar e pousar", disse.
Fonte: Hoje em Dia.
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